Uma mulher: Etty Hillesum executada em Auschwitz. Não foi uma “resistente” no sentido militar, no entanto, a sua força de alma é daquelas que podem vencer as guerras mais absurdas: resistência do “Sujeito” quando tudo quer reduzi-lo a um estado de “coisa”, ou mais exactamente a sabão. Etty Hillesum pela sua adesão incrível “àquilo que é” abriu-se a uma consciência alargada de um “Real” em que os paradoxos excedem completamente as nossas compreensões mentais. Ela escreveu: «A vida e a morte, o sofrimento e a alegria, as terríveis bolhas dos pés, o jasmim atrás da casa, as perseguições, as atrocidades sem nome, tudo, tudo está em mim e forma um conjunto poderoso, eu aceito-o como uma totalidade indivisível e começo a compreender cada vez melhor através da minha prática e sem poder ainda explicá-lo aos outros, a lógica desta totalidade; eu queria viver tempo suficiente para poder um dia estar à altura de explicar… regularizei as minhas contas com a vida, quero dizer: a eventualidade da morte está integrada à minha vida; olhar a morte de frente e aceitá-la como parte integrante da vida, é ampliar esta vida. Inversamente, sacrificar os “agora” à morte, um pedaço desta vida, por medo da morte e recusa de aceitá-la, é a melhor maneira de não guardar senão um pequeno fragmento de vida mutilado que mal merece o nome de vida. Isto parece um paradoxo: excluindo a morte da nossa vida privamo-nos de uma vida completa, e acolhendo-a alargamos e enriquecemos a nossa vida.»