"Pobre Vítima!" (1/3)
A palavra vítima encobre uma realidade: se formos roubados ou assassinados, tornamo-nos em vítimas de um delito ou de um crime violento. Ao atribuírem esta noção, que pertence ao foro judicial, a sociedade oferece-nos um reconhecimento triplo: primeiro que sofremos; segundo, que não somos responsáveis pelos nossos sofrimentos; e por fim, que um terceiro foi responsável e deve-nos uma compensação. No domínio jurídico, este modelo é necessário mas torna-se perigoso aplicá-lo no contexto psicológico. Não temos todos nós, uma tendência consciente ou inconsciente a colocar-nos no papel de vítimas? Porque na realidade também podemos esperar um benefício em triplicado, que na realidade é um impasse triplo.
1) Ao mostrar o meu sofrimento, eu posso esperar que um terceiro venha aliviar-me. Não se sentindo responsável pelo seu sofrimento, a vítima espera secretamente pelo seu salvador: aquele que assumirá a responsabilidade no seu lugar. Muitos relacionamentos amorosos nascem de uma transação entre aspetos inconscientes: tu salvas-me e eu salvo-te. E alguns destes relacionamentos acabam porque os enamorados não souberam como ultrapassar esta negociação de auto-enganos. Porque, quando se trata do aspeto psicológico, ninguém salva ninguém.
(continua amanhã...)
Denis Marquet
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