Terminar as nossas tarefas inacabadas (1/15)
Faz parte daquelas pessoas que acumulam montanhas de coisas inacabadas e situações por resolver?
A grande maioria só se sente verdadeiramente bem quando acaba as suas tarefas. Não o fazendo, As tarefas ou situações inacabadas permanecem como uma ruminação
Como se trata de acabar algo vamos começar precisamente pelo fim. No final de contas vamos encontrar-nos com a situação da mochila às costas, cheia de “chumbo”, e conseguir a melhor maneira de nos libertarmos desse peso.
Retiremos os nossos espinhos antes de dar o grande salto
Elisabeth Kübler-Ross (1926-2004) chamava a isto um «negócio inacabado». Ela foi uma pioneira dos cuidados paliativos e do acompanhamento de pessoas moribundas e apercebeu-se que esta é uma questão crucial sobre a qual se desenrolava, e se concluía toda a vida humana. Provavelmente todos conhecem a agradável sensação de nos deitarmos, depois de termos concluído todas as tarefas prioritárias da nossa agenda diária. E isto é importante que seja assim. No entanto, E. Kübler-Ross afirmava que existe algo de vital que ninguém nos pode censurar de não terminarmos. Segundo ela, o «negócio inacabado» pode cair de repente e pesadamente sobre nós. Isto pode tornar-se um imperativo existencial. Ela colocava a fasquia muito alta, mas sobre fragmentos da nossa vida ordinária, que têm que ver com todos nós. Do que é que ela falava? Falava por exemplo, desse homem, ou dessa mulher que não terminava de morrer, com todos os familiares à volta da sua cama, no meio das enfermeiras, perguntando-se a quê a esta vida, ainda se podia agarrar. Um mal-estar enorme que todos já conhecemos, ou conheceremos algum dia. Mas, por detrás da crispação intensa da pessoa moribunda e em suspensão, Elisabeth Kübler-Ross sabia como reconhecer uma «tarefa inacabada»: o homem nunca tinha perdoado verdadeiramente o seu filho – ou não lhe tinha dito que o perdoava; a mulher nunca tinha falado com o seu marido – e que este estava persuadido, no fundo, que ela não o amava; um outro nunca tinha respondido às cartas do seu antigo melhor amigo; outro, solteiro, não se tinha atrevido a compartilhar os seus bens com os sobrinhos e afilhados; outro ainda, não quis reconhecer um filho seu, produto de uma relação extraconjugal… Todos ficaram silenciosos, e agora parecia ser demasiado tarde. Mas não, não é demasiado tarde, era suficiente que algum acompanhante atento soubesse reconhecer o sofrimento dessas situações inconclusas, e ajudasse dando um pouco de si próprio para a sua resolução (Elizabeth chegou a pagar o bilhete de uma criança exilada no estrangeiro) e, como por milagre o longo calvário terminava. O dia seguinte depois de ter esvaziado o seu saco e chorado nos braços do outro, por fim, milagrosamente, ele apagava-se, deixando para trás um desgosto apaziguado.
(continua...)
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