domingo, 19 de maio de 2013

O aprendiz e o feiticeiro (12) ..."Deixa de reduzir o teu Ser à dimensão do tamanho do teu crânio."

O aprendiz e o feiticeiro (12)
Vivi duas semanas no mosteiro com o padre Sebastião. Ele era religioso, certamente, e com uma grande fé, mas também conhecia a arte da feitiçaria e misturava-a sem nenhuma vergonha com as suas práticas de homem da igreja. Tive, portanto, alguma hesitação em perguntar-lhe o que é que ele pensava das crenças e saberes índios. A sua dignidade de monge e a força das suas palavras intimidavam-me. Eu temia que ele danificasse aquilo que os meus pais xamãs me tinham ensinado. Então, um dia, enquanto passeávamos debaixo das arcadas do claustro, tive a ousadia de lhe falar sobre as sete plumas da águia. Ele riu com doçura e disse-me: 
- Foi a quinta pluma que te trouxe até aqui. 
Eu parei, estupefato. Ele deixou-me plantado, deu algumas orientações a alguns noviços que passavam por ali, e depois empurrou uma porta baixinha e desapareceu pelo resto do dia. 
À noite encontrei-o na capela. Foi sentar-se, como era habitual, no centro do círculo dos noviços. No fim da sessão, todos dispersaram furtivamente. Fiquei sozinho com ele. Colocava-me muitas questões e tinha um desejo enorme que me instruísse. Ele orou durante um longo período com os olhos fechados e a cabeça baixa. Por fim, disse-me: 
- Não é o rigor que te conduzirá onde queres ir, não é a ascese, nem o sofrimento, nem aquilo que acreditas ter compreendido até agora. É a especiaria. O perfume da força apaixonada. 
- Padre, então como posso captar esse perfume, ensine-me, como o fazer entrar em mim? 
- Deixa de acreditar que tu és aquilo que tu pensas. Tu não és aquilo que pensas. Deixa de reduzir o teu Ser à dimensão do tamanho do teu crânio. Apenas o sentir pode aproximar-te da especiaria. Serve-te dos teus olhos, das tuas orelhas, do teu paladar, do teu olfato e das tuas mãos. Respira, respira, e deixa-a entrar. 
Pus-me a inspirar e a expirar aprazivelmente com os olhos fechados. E uma espécie de emaravilhamento obscuro invadiu-me pouco a pouco. E então arrisquei: 
- Padre, isso é o que diz a quinta pluma da águia? 
- Nela está o segredo da especiaria, filho. 
Não nos mexemos. A noite foi bela e silenciosa. Quando abri os olhos na capela deserta, fiquei maravilhado com a alvorada. 
(continua…)

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