O aprendiz e o feiticeiro (13)
O padre Sebastião tinha ainda muito para me ensinar, eu estava seguro disso. Tinha fome dos seus mil saberes, sentia-me preparado para mergulhar em todos os exercícios espirituais que ele me queria impor, mas ele deixava-me numa simplicidade, que parecia que estava de férias. Esta manhã, esperei-o no claustro. Estava decidido a abordá-lo, e a falar-lhe. Quando ele saiu para dar o seu passeio, depois da primeira oração do dia, fui ao seu encontro. Sentia dentro do peito um desejo imperativo e sobre o qual não consegui dizer nada quando me encontrei à sua frente. Ficámos por um instante a olhar um para o outro, ele com um olhar aguçado, eu com a boca aberta, até que ele me puxou por um braço e me conduziu à floresta. Caminhámos durante um bom tempo até uma pequena clareira, onde havia um tronco de árvore, deitado debaixo de uma chuvada de raios de sol. Ele sentou-se no tronco. Eu acomodei-me aos seus pés, e virei a cara na sua direção e ele disse-me:
- Para seguires mais adiante, filho, precisas de olhos novos. Aqueles que te trouxeram até aqui são cegos, eles apenas veem ilusões.
Colocou a sua mão direita sobre a minha cabeça e, sorrindo com compaixão, disse-me ainda:
- Esquece tudo aquilo que te trouxe até esta floresta onde nos encontramos, esquece a tua infância e as suas grandes penas, esquece não aquilo que os teus pais índios te ensinaram mas aquilo que te conduziu até eles. Esquece o teu desejo de ser bom, merecedor e digno de amor. Não procures mais. Digno ou não, merecedor ou não, Deus ama-te, filho.
O meu coração estremeceu. Senti-me de repente completamente miserável e disse:
- D. Sebastião, porque é que Deus me amaria se eu não faço aquilo que devo fazer para isso?
- Porque não sabe fazer outra coisa além disso. Ele não sabe fazer mais nada além de amar.
Eu quis dizer qualquer coisa que me parecia terrível e bela ao mesmo tempo, mas não consegui. Ele secou as lágrimas que me escorriam dos olhos. Os seus polegares eram rugosos e tremiam um pouco. Continuou a falar-me. Eu apenas distinguia uma luz deslumbrante, e nesta luz a folhagem e o céu misturados com a sua cara e o seu olhar escutei estas palavras, nesse ambiente tranquilo:
Deixa de querer ser de outra maneira do que aquilo que és. As tuas misérias, os teus medos e os teus defeitos são perecedouros. Não lhes dês mais importância do que às nuvens que passam. Eles não são mais do que isso. Nuvens. Não procures a perfeição. Quem procura a perfeição fica condenado à angústia e à culpa perpétua. Desfaz-te do teu passado, filho, e de todas as emoções que perturbam a visão justa. Senhor! Se eu pudesse desvestir-te de tudo o que está a mais em ti, como serias belo! Mas não posso, eu não sou o vento. Apenas ele pode dispersar os nevoeiros.
(continua…)
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