O aprendiz e o feiticeiro (9)
…-Tive a impressão de ver o mundo com o meu corpo. Não com os meus
olhos, mas com o meu corpo.
- Estavas desperto.
- E já não estou mais?
-Não, a luz apagou-se.
- O que é que aconteceu?
- Quando tu saíste da tua consciência “quadrada”, à um bocadinho, o
teu corpo reencontrou o mundo, e o mundo reencontrou o teu corpo. Tu entraste
nesta bela história de amor que tu me tinhas contado há uns tempos atrás,
lembras-te? O mundo disse ao teu corpo: «Quem está lá?» e o teu corpo não lhe
respondeu: «Sou eu.» Ele respondeu-lhe: «És tu próprio.» O teu corpo reconheceu
os sussurros da Terra, porque os sussurros da Terra são também os teus. O teu
corpo reconheceu a dança dos átomos da Terra, porque os átomos dançam nele da
mesma forma. O teu corpo voltou a reunir a sua família.
- É isso, o “sentir”?
- Sim, Ele só pode despertar-se se a consciência quadrada repousar.
- E porque é que a consciência quadrada é inimiga do sentir?
- Ela não é sua inimiga. Ela é simplesmente um outro espaço de nós
próprios. Ela tem outro uso. É muito útil para fabricar comboios, estradas,
aviões, medicamentos, móveis e sistemas incríveis. Mas ela está feita de tal
maneira que não quer experienciar, ela quer compreender. Ela não quer jogar,
ela quer trabalhar. Ela não quer o inexprimível, ela quer provas. Ela não quer
ser livre, ela quer segurança. Ela deve ser respeitada e ela tem direitos e
poderes. Mas permanece atento a não lhe permitir todos os direitos, nem todos
os poderes. Mantém-te vigilante de maneira que uma porta permaneça sempre
aberta num cantinho da tua consciência quadrada. É preciso que possas sair ao
jardim. É lá que poderás encontrar aquilo e aqueles que são verdadeiramente
significativos para ti.
(continua…)
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