Agradeço-te por me permitires dar-Te!
Guarda a tua gratidão e permite eu te dê a minha, meu amigo.
Ele olhou-me com um ar de agradecido tão graciosamente simples que me coloquei à beira das lágrimas. Eu já não o reconhecia. Eu sabia que ele era rigoroso e capaz de uma extrema atenção às coisas. E de repente, descubro-o tão vulnerável como um santo vagabundo, desprovido de tudo menos de um amor iluminante. Então, balbuciei:
- Porque é que me agradece, você que me dá tanto?
Ele continuou o seu passeio em direção ao sol avermelhado que se punha no oeste, e disse-me:
- Quando um mendigo te estende a mão para te pedir uma esmola, tu dás-lhe a esmola e ele agradece-te. Tu pensas que isso está bem, que é a ordem natural das coisas. Mas na verdade, quando um mendigo te estende a mão, é para ajudar-te a sair de qualquer lugar. Portanto, és tu que lhe deves agradecer.
- A sair de onde?
- Do teu buraco da indiferença, da tua sonolência, da tua miséria íntima. Os mendigos, são dadores invisíveis, lembra-te disso. Tu ajudas-me muito. Sem ti, eu teria dificuldade em permanecer desperto. Felizmente, estendes-me a mão sem cessar. Eu sou idiota, não sou?
- Idiota, você? Meu Deus, como é que pode dizer semelhante coisa?
Eu tremia por todo lado. O meu coração dançava, apetecia-me abraçar este idoso pai com todas as minhas forças, jurar-lhe fidelidade eterna e caminhar ao seu lado até ao fim da minha vida. Ele parou. Piscou-me o olho, sorridente, vivaz e brincalhão, como se acabasse de fazer um truque de ilusionismo, e disse-me:
Nunca temas passar por idiota. Não é a cegueira dos outros que importa, o que importa é o olhar da águia.
(continua…)
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